sexta-feira, 1 de julho de 2011

SEGREGAÇÃO ESPACIAL URBANA


Esse artigo, trata brevemente sobre a questão da segregação espacial urbana, articulando com diversos autores que tratam dessa temática.

Trabalho final da aluna Vanessa Costa Pereira para a disciplina de Expressões da Questão Social - Cidades.


SEGREGAÇÃO ESPACIAL URBANA

Pensar a nossa cidade com todo o cenário de reconfiguração dos espaços urbanos é entender como está o agravamento da questão social advinda seja pelo encolhimento do trabalho, quer seja pela forma de precarização do mesmo.

De acordo com Maricato (2001), é impossível esperar que uma sociedade como está a nossa no momento, que é baseada em modelo de exploração e relações de privilégio e arbitrariedade, possa ter um caráter que não tenham características de segregação espacial.

A segregação ela se torna visível em determinadas cidades, basta uma volta pela cidade – e nem precisa ser uma metrópole – para constatar a diferenciação entre os bairros, tanto no que diz respeito ao perfil da população, quanto às características urbanísticas, de infra-estrutura, de conservação dos espaços e equipamentos públicos.

Essa segregação urbana traz diversos problemas as cidades, uma das dificuldades principais é a desigualdade em si, visto que, camadas mais pobres da população sofrem os pesares maiores com falta de saúde, de alimentação, de moradia, o criem, o medo, a violência, logo, são penalizadas moralmente também, tornando as diferenças ainda mais profundas.

Caldeira apud Raichelis (2006) apoiada em uma pesquisa empírica realizada na cidade de são Paulo entre 1988 e 1998, analisa a forma pela qual o crime, o medo à violência e o desrespeito aos direitos de cidadania tem se combinado com as transformações urbanas para produzir um novo padrão de segregação espacial nas últimas décadas.

Nesta lógica, a segregação seja ela espacial ou social é característica importante das cidades e, com elas são incorporadas os padrões de diferenciação social e de separação. Esses padrões se diferenciam ao longo dos séculos, pois, final do século XIX até os anos 1940, era uma cidade concentrada em que os diferentes grupos sociais se comprimiam numa área urbana pequena e estavam segregados por tipos de moradia.

Logo após, dos anos 1940 aos anos 1980 o que se predominou foi o desenvolvimento da cidade como segunda forma urbana, a centro-periferia, os diferentes grupos eram separados por grandes distâncias, onde as classes médias ficavam nos bairros centrais e os pobres viviam nas distantes periferias.

Porém, dede os anos 1980 se está convivendo com o padrão de centro-periferia, uma terceira forma urbana, que está gerando espaços onde os diferentes grupos sociais estão muitas vezes próximos, mas em compensação separados por recursos tecnológicos, por segurança, por renda mesmo, criando assim muros de desconfiança.

Para Caldeira (2000), esse novo padrão de segregação espacial é denominado de enclaves fortificados, que são os espaços privatizados, fechados e monitorados para residência, consumo, lazer e trabalho que pode ser exemplificado pelos condomínios, shoppings, escolas, hospitais etc.que podem possuir várias características comuns.

Este novo espaço, cujo exemplo analisarei brevemente neste estudo, tem sua justificativa maior na fuga e no medo do crime que, logo, atraem pessoas das classes médias e altas, que estão abandonando a esfera pública tradicional das ruas para os pobres, com isso, modifica significativamente a relação da cidade com a relação de território.

São espaços públicos, isolados por muros e grades, com detalhes arquitetônicos e extrema organização. Suas en­tradas e saídas são protegidas por guardas, que não só cuidam da segurança de quem está dentro, mas também controlam o acesso de quem vem de fora, os crachás, câmeras de vigilância, interfones e portões são instrumentos cada vez mais comuns nos portais de acesso a esses novos espaços.

Como exemplo citarei aqui neste breve estudo, os condomínios. São eles em geral luxuosos que permite ao indivíduo se sentir minimamente satisfeito com os recursos, visto que, muitos condomínios possuem diversos serviços no seu interior, fazendo com que as pessoas não precisem sair para o mundo lá fora para a satisfação de suas necessidades.


Esta forma de isolamento dos conflitos do meio urbano é abordada de forma cortante por Bauman, ao falar dos condomínios supervigiados como espaços bem-sucedidos de secessão.

Para o autor, a ‘elite’ busca, nessas comuni­dades cercadas, um distanciamento dos conflitos provocados pela intimidade confusa no dia-a-dia urbano: “O que seus moradores estão dispostos a comprar ao preço de um braço ou uma perna é o direito de manter-se à distância e viver livre dos intrusos” (BAUMAN, 2003, p. 52).

Por conseguinte, esse isolamento, acaba por segregar e individualizar mais ainda a vida cotidiana e o papel enquanto classe social, pois essa fica fragmentada, descentralizada. O indivíduo quando sai do enclave fortificado por vezes não possue uma interação com os outros indivíduos e quando essa relação acontece é apenas através do papel de subordinado e quem subordina.

Contudo, essa nova cartografia social da cidade, definida por Caldeira (2000) expressa a emergência de um novo padrão de organização das diferenças no espaço urbano, que redefine os processos de interação social e de sociabilidade coletiva, ou seja, promovendo acessos diferenciados à informação, à diversidade de oportunidades e aos equipamentos e bens públicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.

CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de Muros: crime, segregação e cida­dania em São Paulo. São Paulo: ed. 34 / Edusp, 2000.

RAICHELIS, Raquel. Gestão Pública e a Questão Social na Grande Cidade. São Paulo: Lua Nova, 2006.

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